Notícias
voltarUber: entidades garantem que reajuste não chega aos motoristas
Aplicativo anunciou aumento de 6,5% no preço das viagens, mas representantes dos condutores descartam melhoria de condições
A Uber anunciou um reajuste de 6,5% no preço de suas corridas nesta segunda (14/3), diante do aumento de 18,8% na gasolina, com a tarifa cobrada pelo etanol também se elevando. O que parece ser uma boa notícia para os motoristas, no entanto, não segue a lógica. De acordo com entidades representativas, esse crescimento no que é cobrado do passageiro não chegará ao condutor do veículo.
“A Uber mudou o algoritmo dela. Hoje, a oferta da corrida para o motorista é uma espécie de leilão. Ela apresenta um valor para o usuário e outro para o motorista. À medida que o motorista rejeita aquela corrida porque não está valendo a pena, ela (a Uber) vai tentando melhorar”, explica Paulo Xavier, da Frente de Apoio Nacional dos Motoristas Autônomos (Fanma).
De acordo com Paulo, essa mudança no algoritmo do aplicativo dificulta o planejamento dos motoristas. Segundo ele, fica quase impossível fazer uma média de ganhos. Nesse cenário, o aumento de 6,5% anunciado nesta segunda dificilmente chega ao bolso do prestador de serviço.
Antes dessa mudança, o motorista era pago de acordo com o tempo da corrida e o quilômetro rodado, que ainda é a política da 99, principal concorrente da Uber, que anunciou reajuste de 5% na semana passada.
“A gente consegue perceber esse aumento (no sistema de pagamentos por tempo e quilômetro rodado). Ela pegou e aplicou esse aumento direto na conta do motorista, como uma taxa de combustível”, explica o presidente da Fanma.
O presidente da Associação dos Motoristas de Aplicativos de Minas Gerais (Asmopli), Sérgio Nascimento, compartilha da mesma leitura do colega. Segundo ele, o reajuste de 6,5% só chegará para o passageiro e para a própria empresa.
“Mesmo se passasse (os 6,5%), não seria significativo. A gasolina aumenta, e o álcool, que não tem muito a ver (com o reajuste da Petrobras), já aumenta também. O pessoal das refinarias de álcool fala que não repassou. É uma cadeia que você não sabe quem está falando a verdade e quem está falando a mentira”, critica Nascimento.
Neste cenário, a categoria analisa uma saída em massa de motoristas. Principalmente, aqueles que não têm carro próprio e dependem de um carro alugado para poder trabalhar.
"O cara que faz um pouco de conta percebe que está praticamente pagando para trabalhar. Eu suponho que cerca de 60% dos motoristas deixaram de trabalhar. Pessoal está procurando outros trabalhos. A categoria foi formada em meio à recessão de 2015. Agora, essas mesmas pessoas começam a deixar o setor, mesmo sem os índices de desemprego melhorarem", avalia Warley Leite, do Clube dos Motoristas por Aplicativos.
Uber
Em comunicado oficial, a Uber informou que o reajuste nas viagens vem para lidar com a alta no preço da gasolina que tem assustado motoristas da plataforma. A empresa esclareceu que o aumento será repassado integralmente para os parceiros e deve ser aplicado no preço final das corridas de forma temporária.
"Sabemos que motoristas estão entre os primeiros a sentir o impacto dos preços recordes dos combustíveis, então estamos implementando essas iniciativas para ajudá-los. Esperamos que essas ações emergenciais colaborem para reduzir os impactos no dia a dia, mas continuaremos ouvindo nossos parceiros, especialmente neste momento", afirma Silvia Penna, diretora-geral da Uber no Brasil, em comunicado enviado ao jornal O Estado de S. Paulo.